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2015-03-04

Em que Emprego o Meu Tempo? - Eugénio de Castro

Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,
Sem dar conta de mim nem dos pastores,
Que deixam de cantar os seus amores,
Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.

É de tristezas o torrão que amanho,
Amasso o negro pão com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.

Meu coração à doce paz resiste,
E, embora fiqueis crendo que motejo,
Alegre vivo por viver tão triste!

Amor se mostra nesta dor que abrigo:
Quero triste viver, pois vos não vejo,
Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.


in Depois da Ceifa

Eugénio de Castro e Almeida  (n. em Coimbra a 4 março de 1869; m. em Coimbra, a 17 de agosto de 1944)

Ler do mesmo autor:
Engrinalda-me com os teus braços
Circe
Um Sonho
A Laís
Tua frieza aumenta o meu desejo
Presságios
Amores


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